Perda de Audição e Zumbido no Ouvido: causas, diagnóstico e tratamento
Na nossa experiência na Clínica ORL, é frequente recebermos pacientes que se queixam de perda de audição acompanhada de zumbido (tinnitus). Estes dois sintomas estão muitas vezes interligados, e compreender a sua relação é essencial para identificar a causa e definir o tratamento mais adequado.
Embora em alguns casos o zumbido possa surgir isoladamente, quando aparece em simultâneo com perda de audição, deve ser sempre motivo de avaliação otorrinolaringológica.
Tabela Resumo
Tópico | Resumo |
Relação entre sintomas | Zumbido e perda de audição costumam ocorrer em simultâneo e partilham, na maioria dos casos, origem comum no ouvido interno. |
Causas mais comuns | Lesão da cóclea por ruído ou envelhecimento (presbiacusia); otosclerose; doença de Ménière; infeções ou cerúmen; uso de medicamentos ototóxicos; raramente, neurinoma do acústico. |
Sinais de alerta | Zumbido unilateral contínuo com perda progressiva; zumbido pulsátil; perda auditiva súbita. |
Avaliação | História clínica detalhada; exame otoscópico; audiometria, emissões otoacústicas e potenciais evocados auditivos; exames de imagem (RM/TC), se necessário. |
Tratamento | Correção da causa (ex.: cerúmen, infeções, otosclerose, Ménière); reabilitação auditiva; terapia sonora; gestão do stress; aconselhamento especializado. |
Prevenção | Proteção auditiva; controlo de doenças vasculares / metabólicas; uso criterioso de medicamentos ototóxicos. |
Quais as possíveis causas quando surgem juntos?
Quando a perda de audição e o zumbido aparecem em simultâneo, geralmente partilham uma origem comum no ouvido interno ou médio. As causas mais frequentes incluem:
1. Lesão do ouvido interno (cóclea) ou do nervo auditivo
É a causa mais comum. Pode resultar de:
- Exposição prolongada a ruído (profissional ou recreativo);
- Envelhecimento auditivo (presbiacusia);
- Efeitos secundários de medicamentos ototóxicos (como certos antibióticos, diuréticos ou quimioterápicos).
- Doença de Ménière, caracterizada por crises de vertigem, zumbido, sensação de ouvido cheio e perda auditiva flutuante, causada por excesso de líquido (hidropsia endolinfática) no ouvido interno.
Nestes casos, ocorre uma degeneração das células sensoriais da cóclea ou uma alteração na pressão dos líquidos internos. A perda de estímulo auditivo faz com que o cérebro “crie” sons internos, originando o zumbido.
2. Alterações da orelha média
Problemas otológicos na orelha média podem também estar na origem da perda de audição e do zumbido. São alterações que interferem mecanicamente na transmissão do som, como:
- Cerúmen impactado;
- Otite média ou infeção do ouvido;
- Otosclerose (endurecimento do osso do ouvido médio, especialmente do estribo).
Estas alterações reduzem a audição e podem provocar zumbido devido à alteração da condução sonora.
3. Patologias do nervo auditivo
Em situações menos comuns, o problema pode estar no nervo auditivo:
- Neurinoma do acústico (tumor benigno);
- Neuropatia auditiva (alteração da transmissão nervosa).
Nestes casos, o zumbido costuma ser unilateral e progressivo, podendo exigir exames de imagem.
4. Fatores agravantes
Mesmo quando não são a causa principal, alguns fatores potenciam ou agravam o zumbido:
- Stress e ansiedade;
- Disfunções da articulação temporomandibular (ATM);
- Tensão cervical;
- Consumo excessivo de cafeína, tabaco ou sal.
Quais os sintomas relacionados?
Além do zumbido e da perda auditiva, é comum surgirem:
- Dificuldade em compreender a fala, especialmente em ambientes ruidosos;
- Sensação de ouvido abafado ou cheio;
- Hipersensibilidade a sons (hiperacusia);
- Fadiga auditiva;
- Alterações do sono, ansiedade ou irritabilidade;
- Em alguns casos, vertigem (particularmente na doença de Ménière).
Na nossa prática, notamos que o zumbido tende a ser mais perceptível em momentos de silêncio, especialmente à noite.
Como é feito o diagnóstico?
A avaliação deve ser completa e individualizada. Na Clínica ORL, realizamos:
- História clínica detalhada: duração dos sintomas, exposição a ruído, uso de medicamentos, doenças associadas.
- Exame otorrinolaringológico: observação do ouvido.
- Exames audiológicos: audiograma, otoemissões acústicas, potenciais evocados auditivos e/ou impedanciometria.
- Exames de imagem: ressonância magnética ou tomografia, quando há suspeita de neurinoma ou outras lesões estruturais.
Este processo permite-nos identificar a origem da perda auditiva e do zumbido, orientando o tratamento adequado.
Quais os possíveis tratamentos para a Perda de Audição e o Zumbido no Ouvido?
O tratamento da perda de audição associada a zumbido depende da causa identificada, mas geralmente envolve uma combinação de medidas médicas, reabilitadoras e terapêuticas. O objetivo é corrigir ou estabilizar a origem do problema, melhorar a audição e reduzir o impacto do zumbido no dia a dia.
1. Tratamento da causa subjacente
Sempre que é possível identificar a causa, o primeiro passo é atuar diretamente sobre ela. Entre as abordagens mais frequentes incluem-se:
- Remoção de cerúmen;
- Tratamento de otites;
- Cirurgia da otosclerose (estapedotomia);
- Controlo da doença de Ménière (redução de sal, diuréticos, medicação específica);
- Ajuste ou suspensão de fármacos ototóxicos;
- Tratamento de alterações vasculares e metabólicas;
- Vigilância ou cirurgia em casos de neurinoma.
2. Reabilitação auditiva
Quando a perda de audição é irreversível, a reabilitação auditiva desempenha um papel essencial. As opções incluem:
- Aparelhos auditivos, melhoram a perceção sonora e reduzem a intensidade do zumbido, ao “mascará-lo”;
- Implantes cocleares, em casos de perda auditiva severa;
- Terapia sonora e treino auditivo, que ajudam o cérebro a habituar-se ao zumbido.
3. Terapias complementares
Em alguns casos, associamos terapias que atuam sobre o impacto emocional e a adaptação ao sintoma. Entre as mais utilizadas destacam-se:
- Terapia de reabilitação do zumbido (TRT);
- Terapia cognitivo-comportamental, para reduzir o impacto emocional;
- Gestão do stress e higiene do sono.
Não existe uma “cura única” para a perda de audição e o zumbido, mas através de um plano terapêutico personalizado é possível reduzir significativamente o incómodo, melhorar a perceção sonora e restaurar a qualidade de vida.
Qual a possível evolução / complicações se não tratados?
Quando a perda de audição e o zumbido não são devidamente avaliados e tratados, podem evoluir de forma progressiva e ter impacto significativo na qualidade de vida. Entre as principais complicações observadas, destacam-se:
- Agravamento da perda auditiva, que pode tornar-se permanente e mais difícil de reabilitar;
- Cronificação do zumbido, tornando-o mais persistente e desconfortável;
- Dificuldades de comunicação, com consequente isolamento social e redução da interação no dia a dia;
- Perturbações do sono, ansiedade e sintomas depressivos, frequentemente associados à perceção constante do som;
- Atraso no diagnóstico de patologias graves, como o neurinoma do acústico ou outras doenças do ouvido interno.
Por isso, recomendamos uma avaliação médica precoce e acompanhamento regular em casos de perda de audição ou zumbido persistente.
Existem formas de prevenir a Perda de Audição e o Zumbido no Ouvido?
É muito difícil falar sobre a prevenção destes dois sintomas porque as suas causas podem variar muito. Existem, no entanto, algumas medidas simples que podem ajudar a proteger a audição (não garantindo o sucesso), como por exemplo:
- Evitar exposição prolongada a ruído e usar protetores auditivos;
- Reduzir o volume dos auscultadores;
- Fazer avaliações auditivas periódicas, especialmente após os 50 anos;
- Controlar hipertensão, diabetes e colesterol;
- Evitar automedicação com fármacos potencialmente ototóxicos;
- Gerir o stress e manter hábitos saudáveis.
Perguntas Frequentes
O zumbido está sempre associado à perda de audição?
Nem sempre. Apesar da maioria dos pacientes (70 a 90%) com zumbido apresentar algum grau de perda auditiva, muitas vezes relacionada com ruído, envelhecimento ou doenças do ouvido interno, há casos em que o zumbido ocorre isoladamente (aparentemente). Nestes, pode existir uma “perda auditiva oculta” (hidden hearing loss), não detetável em exames convencionais (como o audiograma).
A perda de audição pode surgir de forma súbita?
Sim. A perda auditiva súbita neurossensorial é uma situação urgente e deve ser avaliada rapidamente. Pode surgir acompanhada de zumbido e, quando tratada nas primeiras 72 horas, tem maior probabilidade de recuperação.
O zumbido pode causar perda de audição?
Não. O zumbido é uma consequência, não uma causa. Em muitos casos, ele resulta da perda de audição e não o contrário. No entanto, pode dar a sensação de pior audição, sobretudo quando é intenso ou contínuo.
Quando devo procurar ajuda médica?
Deve procurar um otorrinolaringologista sempre que, o zumbido é unilateral, pulsátil ou persistente; nota perda auditiva repentina ou progressiva; sente vertigem, desequilíbrio ou dor no ouvido; o zumbido interfere com o sono, a concentração ou o bem-estar emocional. A avaliação médica precoce é essencial para identificar a causa e definir o tratamento adequado.
Os aparelhos auditivos ajudam também no zumbido?
Sim. Ao amplificarem os sons externos, os aparelhos auditivos reduzem o contraste com o zumbido e ajudam o cérebro a “mascarar” esse som interno. Muitos pacientes relatam alívio significativo após adaptação do aparelho.
É normal o zumbido piorar à noite?
Sim. O silêncio ambiente torna o zumbido mais perceptível. Sons suaves de fundo, como ruído branco, música relaxante ou sons da natureza, podem ajudar a disfarçar o som e facilitar o sono.
Que fatores podem agravar a perda de audição e o zumbido?
A exposição a ruído intenso, o uso prolongado de auscultadores, certos medicamentos (ototóxicos), o tabagismo, o stress e doenças como hipertensão ou diabetes são fatores que agravam ambos os sintomas.
O zumbido pode desaparecer sozinho?
Em casos transitórios, sim, por exemplo, após exposição a ruído intenso ou acumulação de cerúmen. Mas se o zumbido persistir, é importante avaliar a causa e iniciar acompanhamento especializado.
A perda auditiva é reversível?
Depende da origem. As perdas condutivas (por cerúmen, infeções ou otosclerose) são muitas vezes reversíveis com tratamento. Já as perdas neurossensoriais (por idade, ruído ou doenças do ouvido interno) tendem a ser permanentes, mas podem ser compensadas com reabilitação auditiva e terapias de apoio.
Agende uma consulta de Otorrinolaringologia
Na Clínica ORL
Morada: Avenida da Boavista, 117 – 6.º andar, Sala 606, 4050-115 Porto, Portugal
Este conteúdo é meramente informativo e não substitui uma avaliação médica personalizada. Agende uma consulta.
Fontes
- Insights de Dr. Eurico de Almeida (Otorrinolaringologista da Clínica ORL);
- Tinnitus (ENT Health);
- Tinnitus – Symptoms and causes (Mayo Clinic);
- Hearing loss – Symptoms and causes (Mayo Clinic);
- New thinking about tinnitus (Harvard Health);
- Deafness and hearing loss (World Health Organization);
- Tinnitus (Ringing in Ears): Causes & Treatment (Cleveland Clinic).