
A otosclerose é a doença mais frequente existente na espécie humana. Normalmente não dá qualquer sintoma, mas quando se localiza no ouvido ela vai causando uma progressiva perda auditiva.
A otosclerose é uma patologia que resulta do crescimento anormal de osso no ouvido médio. É um termo que deriva da palavra “oto” (ouvido) e “esclerose” (endurecimento anormal de tecido corporal).
A otosclerose, geralmente, afeta mais o último osso da cadeia ossicular, o estribo, que transmite as vibrações sonoras para o ouvido interno, através da janela oval. Este crescimento anormal, rigidifica toda a cadeia ossicular, impedindo que a transmissão do som se propague normalmente até ao ouvido interno.
A causa da otosclerose não é, ainda, totalmente conhecida. No entanto, pesquisas têm demonstrado que a otosclerose é hereditária.
Os primeiros sintomas ocorrem, normalmente, entre os 20 e os 40 anos. Há, também, uma relação entre a otosclerose e as alterações hormonais associadas à gravidez. Várias pesquisas comprovam esta relação. Por exemplo, um estudo, feito em 2016, a 54 mulheres, “Otosclerosis – ear disease in women”, concluiu que 66% sentiram agravamento da surdez com a gravidez.
Estudos mais recentes associam, ainda, a otosclerose a infeções virais (como o sarampo). Nos anos 70 a 90 a otosclerose era uma situação clínica extraordinariamente frequente. A partir da generalização da vacina contra o sarampo notou-se um decréscimo muito significativo no número de pacientes otoscleróticos. Pensa-se que este facto se relaciona com a falta de estimulação de crescimento do foco otosclerótico que era habitualmente induzido pelo vírus do sarampo. Não havendo vírus, não há estimulação otosclerótico e não há acentuar da doença, que se mantém num nível assintomático.
O sintoma principal da otosclerose é a perda progressiva e lenta de audição, podendo coexistir com zumbido e excecionalmente com vertigem.
A perda de audição deve-se ao facto do osso mais interno do ouvido médio, chamado estribo, ver a sua mobilidade progressivamente diminuída pelo crescimento do foco otosclerótico que existe na sua vizinhança. O grau de desenvolvimento do foco otosclerótico é muito variável, sendo muito mais frequente o crescimento médio ou moderado do que o crescimento extremo (otosclerose obliterativa).
Numa fase inicial, a doença gera perda auditiva de condução mais acentuada nas baixas frequências. Esta fase da doença é habitualmente tratada com a clássica cirurgia de otosclerose. Quando a doença avança e invade o ouvido interno causa uma surdez que deixa de ser de condução para ser uma surdez mista (surdez em que há perda acentuada da condução aérea). Nestas circunstâncias, a solução mais sensata é a aplicação de prótese auditiva. Quando a perda auditiva é extrema, existe ainda a possibilidade de ajudar o paciente mediante a aplicação de implante coclear.
O único fator é a existência de hereditariedade manifestada por otosclerose em vários elementos da família, especialmente do sexo feminino.
O diagnóstico da otosclerose deve ser feito por um otorrinolaringologista, através de um exame clínico, exame com diapasões e exames audiológicos.
Os testes audiológicos de diagnóstico mais importantes, que devem ser feitos pelo audiologista, são:
A tomografia computadorizada é um exame imagiológico de grande importância para a compreensão da extensão da doença e para a previsão das técnicas cirúrgicas a aplicar.
O tratamento mais corrente da otosclerose é cirúrgico.
A cirurgia de otosclerose foi iniciada nos anos 60 por John Shea (de Memphis, Tennessee), que começou com uma técnica em que o estribo fixo era substituído por um tubo de polietileno.
No mesmo ano, Harold Schuktnect utilizou o mesmo princípio, mas substituiu o estribo fixo por um fio de arame de 0.4mm de diâmetro que na sua extremidade tinha uma pequena porção de gordura do lóbulo da orelha. Várias próteses foram entretanto utilizadas. A prótese mais utilizada hoje em dia é a prótese de Jean-Bérnard Causse cujo material é teflon. A cobertura do vestíbulo é também sujeita a múltiplas variações que incluem veia, gordura, pericôndrio, sangue ou mesmo nada.
A cirurgia é chamada de estapedectomia, quando todo o osso é substituído por uma prótese de teflon ou titânio, ou estapedotomia, quando apenas parte da platina é removida. Saiba mais sobre a cirurgia em Estapedectomia / Estapedotomia.
A cirurgia é hoje normalmente feita com anestesia geral. No passado, ela era sistematicamente feita com sedação do doente associada a anestesia local da pele do canal auditivo externo.
Se, por um lado, a cirurgia é o procedimento mais adequado, por outro, pode não corrigir na totalidade, a perda auditiva. Acontece que, com o tempo, a surdez pode ressurgir. Nestas situações, o recurso a aparelhos auditivos é a melhor solução.
Para casos mais complexos, quando os aparelhos auditivos não conseguem garantir uma boa qualidade auditiva ao paciente, existe ainda a possibilidade de colocação de um implante coclear.
Esta delicada cirurgia é habitualmente seguida de excelentes resultados cirúrgicos. Cerca de 96% dos doentes obtêm o resultado previamente esperado por médico e doente. Cerca de 3% dos doentes não têm resultado francamente desejável e 1%, a maior das vezes por razões desconhecidas, nota perda auditiva total após a cirurgia.
É importante informar o doente que praticamente sempre, independentemente da excelência da técnica cirúrgica utilizada, existe uma perda auditiva de 0.5dB / ano, o que significa que, ao fim de 10 anos, o resultado inicial alterou-se para uma perda de mais 5dB do que aquela obtida imediatamente após a cirurgia. É por isso que quanto mais jovem é o doente operado maiores serão as possibilidades de décadas depois haver necessidade de aplicação de próteses auditivas.
Otorrinolaringologista.
O maior risco desta cirurgia é paralisia facial periférica que pode inclusivamente ser induzida pela anestesia do canal auditivo externo. Quando assim é, o prognóstico é excelente e todos pacientes recuperam. Se, contudo, a paralisia facial é causada por movimento intempestivo do cirurgião, o período de recuperação pode ser prolongado. Um risco muito raro desta cirurgia é a existência de gusher, que mais não é que uma violenta saída de linfa que provoca dificuldades técnicas significativas ao cirurgião.
A persistência da artéria estapediana pode também representar um risco significativo. Se for absolutamente necessário removê-la, existe o perigo de causar uma hemorragia severa, o que pode complicar e dificultar o progresso normal da cirurgia.
Em suma, a enorme maioria das intervenções cirúrgicas de otosclerose tem um pós-operatório muito suave. Há, no entanto, por vezes, situações de vertigem, que são de muito curta duração. Excecionalmente a vertigem prolonga-se por semanas, necessitando de tratamento específico para o desequilíbrio (reabilitação vestibular).
Normalmente quando a execução cirúrgica não encontra nenhum obstáculo significativo, a recuperação é rápida e varia entre 1 a 2 semanas. Esta intervenção, no pós-operatório, não causa dor ao paciente.
O expectável é que o paciente comece a ouvir melhor, não tenha vertigens e se sinta normal.
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