Disfagia

Tabela de Conteúdos

Disfagia é a dificuldade ou incapacidade em engolir alimentos, líquidos ou saliva, desde a boca até ao estômago. Este sintoma pode surgir de forma súbita ou progressiva, sendo muitas vezes indicativo de doenças neurológicas, estruturais ou funcionais. Reconhecer precocemente os sinais de disfagia é essencial para prevenir complicações como desnutrição, pneumonia por aspiração ou asfixia.

O que é a disfagia?

A disfagia corresponde à dificuldade ou incapacidade de deglutir alimentos, líquidos ou saliva. Pode manifestar-se em qualquer idade e surgir de forma aguda ou crónica, transitória ou permanente.

Existem dois tipos principais:

  • Disfagia orofaríngea: dificuldade na fase inicial da deglutição (boca e garganta).
  • Disfagia esofágica: dificuldade na fase final, durante a passagem pelo esófago.

Ambas comprometem a segurança e eficácia do transporte do alimento até ao estômago.

Qual a incidência da disfagia?

A disfagia é relativamente comum, especialmente em grupos vulneráveis. A sua prevalência aumenta com a idade e com determinadas doenças.

Estudos indicam que:

  • Cerca de 8% da população mundial sofre de disfagia, o que corresponde a aproximadamente 590 milhões de pessoas (Cichero et al., 2013).
  • Em lares de idosos, a prevalência pode atingir 50,2% (Rivelsrud et al., 2023).
  • Após um Acidente Vascular Cerebral (AVC), estima-se que entre 19% e 81%, conforme diferentes estudos (Meng et al., 2000; Martino et al., 2005). Uma meta-análise recente aponta uma prevalência média de 42%, com base em 42 estudos envolvendo 26 366 participantes (Banda et al., 2022).
  • Em doentes com Doença de Parkinson, a prevalência ronda os 36,9% (Gong et al., 2022).
  • A incidência da disfagia na demência, cerca de 72.4%, é apontada em diferentes estudos (Rajati et al., 2022).
  • Nas unidades de cuidados intensivos a incidência de disfagia pós extubação (DPE), a prevalência pode variar entre 3% e 62%, podendo atingir 84% em alguns estudos (Skoretz et al., 2010; Macht et al., 2011).

Causas da disfagia

As causas da disfagia podem ser agrupadas em categorias neurológicas, musculares, estruturais e funcionais. A seguir, explicamos as mais frequentes.

Causas neurológicas e neurodegenerativas

Estas interferem com os centros cerebrais ou nervos responsáveis pela deglutição:

  • Acidente Vascular Cerebral (AVC);
  • Doença de Parkinson;
  • Alzheimer e outras demências;
  • Esclerose Múltipla;
  • Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).

Causas musculares e neuromusculares

Quando os músculos ou a transmissão nervosa são afetados:

  • Miastenia gravis;
  • Distrofias musculares;
  • Polimiosite;
  • Miopatias diversas.

Alterações anatómicas, estruturais ou tumorais

Estas podem bloquear ou dificultar a passagem dos alimentos:

  • Tumores na faringe, laringe ou esófago;
  • Cirurgias ou radioterapia na região da cabeça e pescoço;
  • Estenoses (estreitamentos), cicatrizes ou compressões.

Causas esofágicas e funcionais

Envolvem problemas diretamente no esófago:

  • Acalásia;
  • Refluxo gastroesofágico crónico;
  • Divertículo de Zenker;
  • Anéis ou membranas esofágicas.

Compressões externas e causas diversas

Algumas estruturas externas também podem comprimir o esófago:

  • Aneurisma da aorta;
  • Disfagia lusória (artéria subclávia aberrante);
  • Cardiomegalia (aurícula esquerda aumentada);
  • Tumores torácicos e mediastinais.

Sinais e sintomas da disfagia

A disfagia pode manifestar-se através de vários sintomas físicos e comportamentais. A deteção precoce é essencial.

Entre os sinais mais frequentes estão:

  • Tosse ou voz molhada após engolir;
  • Sensação de alimento preso na garganta ou no peito;
  • Dificuldade em iniciar a deglutição;
  • Necessidade de engolir várias vezes o mesmo bocado;
  • Perda de peso não intencional;
  • Regurgitação oral ou nasal;
  • Infeções respiratórias recorrentes;
  • Evitamento de certos alimentos.

Fatores de Risco

Alguns fatores aumentam significativamente o risco de desenvolver disfagia. Destacam-se:

  • Idade avançada;
  • AVC e doenças neurológicas;
  • Doenças neuromusculares (ELA, distrofias, miastenia);
  • Refluxo crónico ou esofagite;
  • Tumores ou cirurgias cervicais;
  • Intubação prolongada ou ventilação mecânica;
  • Doenças autoimunes como esclerodermia;
  • Doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da disfagia baseia-se numa abordagem clínica e instrumental:

  • Observação dos sinais durante a alimentação;
  • Questionário clínicos padronizados.

De seguida, podem ser solicitados exames instrumentais como:

  • Videoendoscopia da deglutição (VED);
  • Videofluoroscopia da deglutição (VFC);
  • Manometria esofágica de alta resolução.

Estes exames ajudam a identificar a fase da deglutição afetada e a definir o plano de intervenção.

diagnostico disfagia
Imagem meramente ilustrativa

Quais os tratamentos da disfagia?

O tratamento depende da causa e gravidade, mas visa sempre garantir uma deglutição segura e eficaz.

Terapia da Fala

A terapia da fala é fundamental na disfagia orofaríngea:

  • Exercícios de fortalecimento (língua, faringe, laringe);
  • Manobras voluntárias (ex.: deglutição em esforço);
  • Treino postural (ex.: flexão do pescoço).

Adaptação da dieta

Segundo a International Dysphagia Diet Standardisation Initiative (IDDSI):

  • Espessamento de líquidos (níveis 0 a 4);
  • Modificação dos sólidos (níveis 4 a 7);
  • Alimentos homogéneos e fáceis de engolir;
  • Orientação sobre posturas e utensílios adequados.

Tratamento médico ou cirúrgico

  • Medicamentos para refluxo ou infeções;
  • Dilatações endoscópicas para estenoses;
  • Cirurgia para tumores ou divertículos;
  • Injeção de toxina botulínica em hipertonia cricofaríngea;
  • Colocação de stent esofágico.

Vias alternativas de alimentação

  • Sonda nasogástrica (SNG): curto prazo.
  • Gastrostomia endoscópica (PEG): longo prazo.

A que profissionais se deve dirigir para tratar a disfagia?

Se suspeitar de disfagia, deve procurar:

Estes profissionais estão habilitados a diagnosticar e tratar alterações da deglutição.

Quando procurar ajuda?

Deve procurar um profissional de saúde sempre que observar:

  • Tosse ou engasgos ao engolir;
  • Sensação de alimento parado na garganta;
  • Perda de peso sem explicação;
  • Repetição de pneumonias ou febres pós-refeição.

O diagnóstico e intervenção precoces evitam complicações graves.

Complicações da disfagia não tratada

Quando não tratada, a disfagia pode levar a:

  • Desnutrição e desidratação;
  • Pneumonia por aspiração;
  • Asfixia;
  • Isolamento social, ansiedade e depressão;
  • Aumento da mortalidade hospitalar.

Como prevenir a disfagia?

A prevenção está relacionada com o controlo dos fatores de risco. Para reduzir a probabilidade de desenvolver disfagia, recomenda-se, por exemplo:

  • Controlar doenças crónicas (como diabetes e refluxo);
  • Prevenir AVC com hábitos saudáveis;
  • Mastigar bem e comer devagar;
  • Procurar avaliação precoce ao notar sintomas.

Perguntas Frequentes

A odinofagia é dor ao engolir (geralmente causada por inflamação). Já a disfagia é a dificuldade física ou funcional em deglutir.

Procure um profissional de saúde, como terapeuta da fala ou otorrinolaringologista. O diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais.

Sim. A disfagia orofaríngea psicogénica (vulgarmente chamada de “disfagia emocional”), embora rara, é causada por fatores emocionais, sem base estrutural identificável, pode dar origem a alterações nutricionais.

A alimentação deve ser adaptada às recomendações de um profissional de saúde, respeitando as texturas seguras, a posição do corpo e o ambiente calmo.

Depende da causa. Em muitos casos, é possível reabilitar ou compensar a função deglutitória e melhorar a qualidade de vida com o acompanhamento adequado.

Tabela Resumo

Tópico

Resumo

Definição

Dificuldade em deglutir alimentos ou líquidos. Pode ser orofaríngea ou esofágica.

Prevalência

Estima-se que afete 8% da população mundial. Mais comum em idosos e doentes neurológicos.

Causas

AVC, Doença de Parkinson, Alzheimer, tumores, refluxo, intubação prolongada.

Sintomas comuns

Tosse ao engolir, voz molhada, sensação de alimento parado, perda de peso.

Diagnóstico

Avaliação clínica + exames como Videoendoscopia da Deglutição (VED), Videofluoroscopia da Deglutição (VFC), Manometria de Alta Resolução.

Tratamento

Terapia da fala, adaptações alimentares (IDDSI), medicação, cirurgia ou sonda nasogástrica.

Complicações

Pneumonia, desnutrição, isolamento social, complicações respiratórias.

Prevenção

Controlo de fatores de risco e atenção aos sinais precoces.

Este conteúdo é meramente informativo e não substitui uma avaliação médica personalizada. Em caso de sintomas persistentes ou dúvidas, agende uma consulta.

Conteúdo revisto por:

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