Cristais desalinhados nos ouvidos: saiba identificar e tratar a vertigem
Os “cristais desalinhados” são pequenos cristais de cálcio do ouvido interno que, quando se deslocam para locais inadequados, provocam vertigens rotatórias súbitas, intensas e de curta duração. Estas crises são habitualmente desencadeadas por movimentos simples, como virar-se na cama, deitar, levantar ou olhar para cima. O diagnóstico é feito na consulta, através de manobras específicas, e o tratamento consiste em reposicionar os cristais, o que proporciona alívio rápido na maioria dos utentes.
Tabela Resumo
Tópico | Resumo |
O que são | Pequenos cristais de cálcio (otólitos) que, ao deslocarem-se do utrículo para os canais semicirculares, provocam crises de vertigem; corresponde à Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB). |
Sintomas | Vertigem rotatória súbita, breve e intensa; desencadeada por movimentos da cabeça; pode haver náuseas ou instabilidade; não provoca perda auditiva nem zumbido. |
Causas | Maioria idiopática (causa não é 100% conhecida); fatores de risco: idade, sexo feminino, traumatismos cranianos/cervicais, infeções virais, imobilização prolongada, enxaqueca, défice de vitamina D. |
Diagnóstico | Clínico; baseado na história dos sintomas e em manobras como a Dix-Hallpike, que reproduzem vertigem e permitem observar o nistagmo. |
Tratamento | Manobras de reposicionamento (Epley, Semont); em alguns casos exercícios de Brandt-Daroff. |
Quando procurar ajuda | Se os sintomas não melhoram; crises frequentes ou incapacitantes; risco de queda; ou sinais de alarme. |
O que são os “cristais desalinhados” nos ouvidos?
O termo popular “cristais desalinhados” refere-se ao deslocamento dos otólitos (ou otocónia), pequenas partículas de cálcio que normalmente permanecem no utrículo, uma estrutura do ouvido interno. Quando estes cristais migram para os canais semicirculares, alteram o funcionamento do sistema vestibular e desencadeiam crises de vertigem.
Este mecanismo é o que define a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB), responsável por grande parte das vertigens observadas em consulta.
Segundo dados de um estudo populacional publicado no Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, a VPPB tem uma prevalência ao longo da vida de 2,4% e uma incidência anual de 0,6%, sendo mais frequente em mulheres e emcx idades avançadas (von Brevern et al., 2007).
O que acontece quando os cristais estão desalinhados?
Em condições normais, os otólitos permanecem no utrículo, ajudando o cérebro a reconhecer os movimentos lineares e a posição da cabeça. Quando se soltam e entram nos canais semicirculares, passam a mover-se de forma inadequada com os movimentos da cabeça.
Este deslocamento gera estímulos errados que os recetores vestibulares transmitem ao cérebro. Como consequência, o cérebro interpreta que a cabeça está a girar quando, na realidade, está parada. É esta falha de interpretação que provoca a vertigem súbita, rotatória e breve, geralmente desencadeada por movimentos como virar-se na cama, deitar, levantar ou olhar para cima.
O que provoca o desalinhamento dos cristais?
Na maioria dos casos não conseguimos identificar uma causa específica (dizemos que o quadro é idiopático), mas sabemos que existem fatores que aumentam o risco dos cristais do ouvido interno se soltarem e provocarem vertigens. Entre os mais relevantes destacam-se:
- Idade: a partir da meia-idade, o desgaste natural do sistema vestibular facilita o desprendimento dos otólitos;
- Sexo feminino: estudos mostram uma maior prevalência em mulheres;
- Traumatismos cranianos ou cervicais, mesmo de menor intensidade;
- Infeções virais recentes, que podem afetar o ouvido interno;
- Imobilização prolongada, como acontece após cirurgias ou períodos de repouso;
- Enxaqueca, que está associada a alterações do equilíbrio;
- Défice de vitamina D, relacionado em estudos recentes a maior risco de recidivas.
Estes fatores não explicam todos os casos, mas ajudam a compreender o motivo de algumas pessoas terem maior probabilidade de desenvolver episódios de “cristais desalinhados”.
Como identificar os cristais desalinhados nos ouvidos?
O diagnóstico dos cristais desalinhados é essencialmente clínico. O ponto de partida é a história dos sintomas, marcada por crises de vertigem rotatória súbita, breve e desencadeada por movimentos específicos da cabeça.
Para confirmar, utilizamos manobras diagnósticas, sendo a Dix-Hallpike a mais frequente. Estas manobras permitem reproduzir a vertigem e observar o nistagmo (movimentos involuntários dos olhos) característico, que confirma a presença de cristais deslocados e indica o ouvido e o canal envolvidos.
Na maioria dos casos, este procedimento é suficiente para estabelecer o diagnóstico. Apenas perante quadros atípicos ou na presença de sinais de alarme (como défices neurológicos, perda auditiva súbita, cefaleia intensa, febre ou traumatismo) recorremos a exames complementares, como ressonância magnética ou provas vestibulares.
Como tratar os cristais desalinhados nos ouvidos?
O tratamento mais eficaz para os cristais desalinhados baseia-se em manobras de reposicionamento, que utilizam a gravidade para devolver os otólitos ao utrículo, a sua posição natural.
As manobras mais utilizadas são:
- Manobra de Epley, geralmente a primeira escolha no tratamento da vertigem do canal posterior;
- Manobra de Semont, uma alternativa eficaz quando a Epley não resulta ou não é bem tolerada.
Além destas, em alguns casos podem ser recomendados os exercícios de Brandt-Daroff, que ajudam a reduzir sintomas e diminuir o risco de recorrência, sobretudo quando as manobras principais não são possíveis.
Todos estes exercícios devem ser ensinados por um otorrinolaringologista e realizados em segurança. Para conhecer em detalhe cada uma destas técnicas, consulte o artigo: Exercícios para colocar os cristais do ouvido no lugar.
Quando devo procurar ajuda médica?
Deve procurar avaliação especializada sempre que:
- Os sintomas não melhoram após manobras de reposicionamento;
- As crises são frequentes ou incapacitantes;
- Existe risco de queda, especialmente em idosos;
- Estão presentes sinais de alarme, como:
- Cefaleia súbita e intensa;
- Febre alta e mal-estar geral;
- Défices neurológicos (fraqueza, dificuldade em falar, visão dupla);
- Perda auditiva súbita;
- Traumatismo recente.
Nestes casos, a observação médica deve ser imediata.
Perguntas Frequentes
Quais são os sintomas dos cristais desalinhados?
A vertigem rotatória súbita e breve é o sintoma mais típico. Surge ao virar-se na cama, deitar, levantar ou olhar para cima. Pode ser acompanhada de náuseas ou instabilidade, mas não provoca perda auditiva nem zumbido.
Como identificar se tenho cristais desalinhados nos ouvidos?
A confirmação é feita em consulta, através da história clínica e de manobras como a Dix-Hallpike, que reproduzem a vertigem e permitem observar o nistagmo característico.
Como equilibrar os cristais dos ouvidos?
O equilíbrio é restaurado com manobras de reposicionamento, que devolvem os cristais ao seu local correto no utrículo. As mais utilizadas são a manobra de Epley e a manobra de Semont. Estas devem ser realizadas ou ensinadas por um otorrinolaringologista. Para conhecer em detalhe como funcionam estas técnicas, consulte o artigo: Exercícios para colocar os cristais do ouvido no lugar.
Qual é a medicação para os cristais desalinhados?
Não existe um medicamento que reposicione os cristais. Os fármacos podem ser usados apenas para controlar náuseas ou vómitos associados à crise. O tratamento definitivo continua a ser feito com manobras de reposicionamento.
Tenho tonturas quando me deito: pode ser dos cristais desalinhados?
Sim. Uma das situações mais típicas é a vertigem ao deitar-se ou virar-se na cama. Nestes casos, é provável que se trate de cristais desalinhados (VPPB). No entanto, outras doenças também podem provocar tonturas, pelo que é fundamental uma avaliação médica.
Se sofre de vertigens súbitas ou suspeita de cristais desalinhados nos ouvidos, não adie a avaliação. O diagnóstico é simples e o tratamento pode trazer alívio imediato. A nossa equipa de otorrinolaringologia está disponível para esclarecer dúvidas e indicar a melhor abordagem para o seu caso.
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Este conteúdo é meramente informativo e não substitui uma avaliação médica personalizada. Agende uma consulta.
Fontes
- Insights Dr. Eurico de Almeida (Otorrinolaringologista da Clínica ORL);
- Vertigo (NHS)
- Dix-Hallpike Maneuver: Test, Purpose & Results (Cleveland Clinic)
- Clinical Practice Guideline: Benign Paroxysmal Positional Vertigo (Update) (PubMed)
- Benign paroxysmal positional vertigo (BPPV) – Symptoms and causes (Mayo Clinic)
- Prevention of benign paroxysmal positional vertigo with vitamin D supplementation (Neurology)
- Epidemiology of benign paroxysmal positional vertigo: a population based study (PubMed)
- Epidemiology of benign paroxysmal positional vertigo: a population based study (Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry)
- Clinical Practice Guideline: Benign Paroxysmal Positional Vertigo (Update) – Bhattacharyya – 2017 (Otolaryngology–Head and Neck Surgery – Wiley Online Library)